QUEM VAI DECIDIR O FUTURO DE ULISSES?

Autores

DOI:

https://doi.org/10.21783/rei.v11i3.903

Palavras-chave:

pré-compromissos constitucionais, controle de constitucionalidade, autogoverno democrático, desacordos interpretativos

Resumo

Este artigo analisa a crítica de Jeremy Waldron à vinculação entre pré-compromissos constitucionais e o controle de constitucionalidade. Inicialmente, expõe o “núcleo duro” dessa concepção, ilustrado por Jon Elster com base na metáfora de Ulisses e as sereias. Em seguida, explora variações desse argumento, ajustadas por outros autores da teoria constitucional. A partir desse contexto, discute a crítica que Waldron oferece às bases dessa teoria, que é o foco do trabalho. Suas principais objeções são: (i) a noção de que pré-compromissos, por sua natureza democrática, justificam o judicial review é falaciosa, pois a origem desses compromissos não é suficiente para garantir que sua aplicação futura será igualmente democrática; (ii) a natureza abstrata das disposições constitucionais suscita inevitáveis desacordos interpretativos, o que compromete a ideia de aplicação neutra ou intencional dos pré-compromissos; (iii) a delegação da interpretação constitucional põe em risco o ideal de autogoverno democrático, uma vez que os conflitos constitucionais não envolvem uma escolha entre decisões racionais e irracionais, mas entre convicções democráticas igualmente legítimas, o que questiona a possibilidade de uma minoria não-eleita aplicar esses pré-compromissos de maneira impositiva. Ao final, o artigo destaca o problema da concepção de autoridade legítima que permeia as críticas de Waldron.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Ubirajara Coelho Neto, Universidade Federal de Sergipe

Mestre e Doutor em Diteito Constitucional pela Universidade Federal de Minas Gerais. Pós-doutor pela Universidade de Lisboa, sob orientação do Prof. Jorge Miranda. Professor permanente do Mestrado em Direito da Universidade Federal de Sergipe.

Gustavo da Silva Santos Fontes, Universidade Federal de Sergipe

Mestrando em Direito pela Universidade Federal de Sergipe. Graduado em Direito pela Universidade Federal de Sergipe. Pós-graduado em Direito Civil e Processual Civil pela Universidade Tiradentes. Advogado.

Referências

ACKERMAN, Bruce. We, The People: Foundations. Cambridge: Harvard University Press, 1991.

BOVERO, Michelangelo. Contro il governo dei peggiori: Una grammatica della democrazia. Roma: Editori Laterza, 2000.

DWORKIN, Ronald. A Matter of Principle. Cambridge: Harvard University Press, 1985.

ELSTER, Jon. Ulysses and the Sirens: Studies in rationality and irrationality. Cambridge: Cambridge University Press, 1979.

ELSTER, Jon. Intertemporal Choice and Political Thought. In: LOEWENSTEIN, George; ELSTER, Jon (orgs.). Choice Over Time. New York: Russell Sage Foundation, 1992. Cap. 2, p. 35-53.

ELSTER, Jon. Forces and Mechanisms in the Constitution-Making Process. Duke Law Journal, vol. 45, n. 2, p. 364-396, nov. 1995. Disponível em: https://scholarship.law.duke.edu/dlj/vol45/iss2/2. Acesso em: 03 out. 2024.

ELSTER, Jon. Ulisses Unbound: Studies in Rationality, Precommitment, and Constraints. Cambridge: Cambridge University Press, 2000.

ELSTER, Jon. Comments. In: GUERRA, Claudio López; MASKIVKER, Julia (orgs.). Rationality, Democracy, and Justice: The Legacy of Jon Elster. Cambridge: Cambridge University Press, 2014. Cap. 12, p. 251-277.

FREEMAN, Samuel. Constitutional Democracy and the Legitimacy of Judicial Review. Law and Philosophy, v. 9, n. 4, p. 327-370, dez. 1990. Disponível em: https://doi.org/10.1007/BF00212703. Acesso em: 10 out. 2024.

GARGARELLA, Roberto. El constitucionalismo según John Rawls. Revista Iberoamericana de Filosofía, Política, Humanidades y Relaciones Internacionales, vol. 7, n. 14, p. 16-32, dez. 2005. Disponível em: https://revistascientificas.us.es/index.php/araucaria/article/view/1101/997. Acesso em: 16 out. 2024.

HOLMES, Stephen. Passions and Constraint: On the Theory of Liberal Democracy. Chicago: Chicago University Press, 1995.

KLARMAN, Michael J. Constitutional Fact/Constitutional Fiction: A Critique of Bruce Ackerman's Theory of Constitutional Moments. Stanford Law Review, v. 44, n. 3, p. 759-797, fev. 1992. Disponível em: http://doi.org/10.2307/1228980. Acesso em: 10 out. 2024.

MICHELMAN, Frank I. Rawls on Constitutionalism and Constitutional Law. In: FREEMAN, Samuel (org.). The Cambridge Companion to Rawls. Cambridge: Cambridge University Press, 2003. Cap. 11, p. 394-425.

POPPER, Karl R. A sociedade aberta e seus inimigos. Trad. de Milton Amado. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1974.

RAWLS, John. A Theory of Justice. Rev. ed. Cambridge: Harvard University Press, 1999 [1971].

RAWLS, John. Political Liberalism. New York: Columbia University Press, 1993.

URBINATI, Nadia. Unpolitical Democracy. Political Theory, v. 38, n. 1, p. 65-92, 25 set. 2009. Disponível em: <https://doi.org/10.1177/0090591709348188>. Acesso em: 15 out. 2024.

WALDRON, Jeremy. Law and Disagreement. Oxford: Oxford University Press, 1999.

WHITTINGTON, Keith E. In Defense of Legislatures. Political Theory, v. 28, n. 5, p. 690-702, out. 2000. Disponível em: http://www.jstor.org/stable/192294. Acesso em: 04 out. 2024.

ZAGREBELSKY, Gustavo. Il «Crucifige!» e la democrazia. Torino: Einaudi, 2007.

ZAGREBELSKY, Gustavo. Historia y Constitución. Trad. de Miguel Carbonell. Madrid: Editorial Trotta, 2019.

Downloads

Publicado

2025-09-06

Como Citar

Neto, U. C., & Fontes, G. da S. S. (2025). QUEM VAI DECIDIR O FUTURO DE ULISSES?. REI - REVISTA ESTUDOS INSTITUCIONAIS, 11(3), 1144–1171. https://doi.org/10.21783/rei.v11i3.903

Edição

Seção

Artigos